A ROSA DO PRADO E O DESBRAVADOR DE ROSAS

As "Cantigas de Roda e de Ninar"- de origens portuguesa, francesa e espanhola, desde o Brasil colônia, atravessaram o Atlântico e infiltraram suas originalidades folclóricas Infanto-Juvenil, como rítmicas correntes migratórias - Arregalamos o peito e as adotamos. Lembramos com imensa saudade: o cravo brigou com a Rosa; Terezinha de Jesus; Eu sou pobre, pobre, pobre ; Sete e Sete são quatorze, três vezes Sete Vinte e Um (meninas) - a rua ficava tomada de crianças; nós os meninos, íamos brincar de Garrafão, Rouba Bandeira e Bacondê - éramos mais rústicos e linchados quando errávamos. O tempo passou um pouco, a infância foi se distanciando, a voz modificando, um tanto rouca e logo normalizou (aos 15); houve um estirão, aflorando uma nova fisionomia: físico-espiritual. Sentia-me "O DESBRAVADOR DE FLORES" em suas diversidades: rosas, tulipas, orquideas ,violetas, etc... comecei a fazer versos como o seguinte: toda rosa é uma flor, mas há flores que não são rosas; as rosas tem espinhos e são mais aromáticas - posto que, o cravo brigou com a rosa. Desbravando rosas em todos os jardins e perlongando as "Alvas areias da rua Sargento Jaime," bairro do Prado , Maceió-Alagoas, um aroma especial, trazido pelo vento praieiro, como um ciclone invadiu-me o olfato; olhei para trás, vislumbrei duas rosas já próximo a avenida Amazonas; uma delas cumprimentou-me ao longe com um aceno e a recíproca foi verdadeira. Dias depois aquela mesma Rosa do aceno, passava sozinha de fronte a minha casa: rua São Francisco, 246 e pelos gestos pensei, esta jovem é a mesma da rua Sargento Jaime. Deixei minha mãe conversando com a vizinha e acompanhei a linda jovem; ali começou a romanesca escalada triunfal de um grande amor, pois era Luíza: o somatório de todas as flores , a rosa do Prado da av. Amazonas. Ficamos nos encontrando; apresentou-me sua irmã - Hermogilda e suas amigas(as irmãs, Abigail e Raimunda), a primeira, um anjo de candura, minha melhor amiga, a expressão da bondade. E disse-lhes referindo-me a Luíza: coisa mais linda não há, e que seria minha futura esposa. Luíza era uma NINFA, cuidada pelas sacerdotisas (DEUSAS VESTAIS). Certa feita estávamos juntos de mãos dadas e seu pai,altamente zeloso e ciumento, apareceu na esquina- homem de quase dois metros, e usava uma tabica que mais parecia uma lança; segurei-a pelas mãos, ela aos quatorze anos de uma arrancada desvencilhou-se e saiu correndo. Para desvencilharmo-nos, era como se uma teia de aranhas estivesse entre nós. No retorno do roteiro das fazendas dos meus tios (15 anos), fui procura-la e uma de suas amigas ,me fez confidências desagradáveis, não lembro os termos, a garota falou demais, levando-nos de bandeja inconsequentemente, sem dar-nos chance de uma acareação a fim de explicitações dos fatos coerentemente. Ora, com ética e raciocínio lógico, poderíamos chegar a um denominador comum e nos entendermos e não riscarmos os nossos nomes em nossos cadernos (infantilidade e vaidade comum em adolescentes); não tomamos providências cabíveis, seguimos caminhos opostos ao obviamente correto, talvez colocando ressentimentos exacerbados em lacunas inatingíveis dos lugares mais recônditos da alma humana.O tempo passou e folhas mortas caíam ao chão secando, longe estava a primavera da minha praia e das minhas esperanças; apenas manguesais lamacentos e desestruturantes  ao porvir da felicidade sonhada,  vivificada e destruída, quando estava apenas começando. Não mais a procurei, nem fui procurado. Fiquei como o soldado nos campos de batalha  que perdeu seu cantil. Meses depois a encontrei toda produzida de uma forma que não lhe era peculiar; era um ponto de ônibus de fronte ao "Grupo Escolar Antônio Pombo", tentei pagar-lhe a passagem; ela gritou e gritou, não aceitando meu esmerado tratamento. Estava mais forte, mas senti que não estava bem; seus cabelos com moda esquisita, afinal era moda. Um ano depois estava na Escola Normal, no mesmo prédio da Secretaria de Educação-ouvi gritos e gritos chamando o meu nome - era Hermogilda sua irmã, que cientificou-me: sua namorada morreu, a Luíza. Há quase dois anos não éramos namorados. Dizem que namorava um acadêmico de medicina e que tomara várias pílulas de tipos diferentes, que atacou-lhe os Rins e que dizia "Eu não quero morrer". levaram-na de avião para Recife e ao descer nos Guararapes falecera. Há 27 anos cheguei de São Paulo e um dia conversei com sua tia Senhora.Didi; adiantou que sua irmã Hermogilda estaria morando no bairro Santo Eduardo- não me deu endereço, nunca a encontrei. Só a conhecia como Luíza, nenhum histórico tenho sobre os acontecimentos. fui ao Cemitério inúmeras vezes e nada encontrei, além do túmulo de nossa melhor amiga Abigail, que faleceu aos 31 anos de acordo com a Lápide, nesta contém o nome de seu Raimundo, antigo comerciante no bairro do prado. Disseram-me também que pai e mãe de Luíza morreram no mesmo ano de sua morte. Distam mais ou menos 50 anos de seu falecimento. Só ficou a saudade, procuro esquecê-la, não consigo; choro o seu pranto, canto o seu cantar "lânguido e triste", ouço sua voz suave e aveludada e "penso,logo existo": as paralelas se encontram no infinito, em alguma constelação zodiacal, boreal (VIA LÁCTEA) ou outras galáxias deste "Universo Imensurável". ILUSTRAÇÃO - SALMO 23: O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

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