O MASTODONTE BARULHENTO

O Mastodonte passava, passava e passava... den, delém dendem. Um cabo ligado à rede elétrica; era o transporte coletivo: o Bonde.
Com bancos de madeira e laterais abertas; quebrava, quebrava e quebrava... problemas nos cabos , desencarrilhamentos e mecânicos. Era de uma utilidade incomum apesar do barulho ensurdecedor. Haviam técnicos e mecânicos para observar os defeitos das máquinas com prevenção nas oficinas e onde quer que o problema surgisse mais a presença indispensável era o cobrador e o motorneiro, tinham que ser amigos, estavam sempre juntos... eram os responsáveis diretos pelas geringonças mastodontais. O primeiro picotava as unidades do talonário, taxadas em irrisórios 200 réis e o segundo sempre em pé como uma estátua de carne; olhos fixos no material de sua tarefa, não falava com ninguém; a recíproca era verdadeira, todos respeitavam a sua atitude de não desviar o olhar para direita ou para a esquerda temendo os acidentes de percurso. Ambos usavam uniforme- idumentária: calça, paletó e gorro em azul marinho e bem engomados. Alguns sentiam-se orgulhosos e deixavam transparecer a vaidade masculina, faziam-se respeitar pelo semblante cavalheiresco, predispostos a amabilidades com os usuários ou passageiros daquele transporte de utilidade pública.

O Jacaré Dourado


o Jacaré Dourado era um cobrador em cujas atividades citei no capítulo anterior e por ser alto, branco e vermelho como um irlandês, apelidaram-no com o aludido cognome acima citado, porquanto na época, nesta região a sua população era amorenada e de baixa estatura; justificando portanto, a alcunha graciosa e sutil que recebera o pobre homem, pois jamais escaparia do preconceito por ser diferente.

Os alunos do Grupo Escolar Antônio Pombo



O bonde passava de fronte àquele Estabelecimento da rede pública de ensino, no bairro do Prado da cidade
 de maceió estado de Alagoas. Cursava o terceiro ano primário (1955). Com  imensa saudade lembro D. Cândida, D. Lourdes,  mestras de ensino; e seu Machado, nosso diretor, que era ordeiro, mas introvertido. Era um notável cidadão, calmo e sombrio; jamais ouví sua voz, mas era de índole pacífica. Gostava mesmo do leitinho quente no recreio às dez horas; pulava muito e era peralta e líder da anarquia infantil, pois quando o barulhento bonde passava, íamos para fora e gritávamos: "jacaré dourado fio da peste"- o homenzarrão nos odiava e dizia todo palavrão que não se diz na igreja, nem em fraseados pejorativos. Quisera encontrar o Senhor JACARÉ DOURADO e pedir-lhe perdão, abraça-lo e dar um beijo na testa do velhinho e chamá-lo pelo nome de batismo, pois era um homem honrado e trabalhador assíduo deste lindo país, o BRASIL DE CABRAL, o nosso rincão das dimensões continentais.

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